quarta-feira, 25 de abril de 2012

MÃE, AMIGA E CUMPLICE

Comportamento


Pais e filhos
São José do Rio Preto, 25 de Abril, 2012 - Jornal Diário da Região
Mãe, amiga e cúmplice
Vívian Lima


Cuidado e proteção que se transformam em cumplicidade e confiança. O vínculo entre mãe e filha pode ganhar novos moldes quando esta última atinge a fase adulta. A relação pode se fortalecer no âmbito da amizade. E não pense que somente a filha é quem considera o colo da mamãe um porto seguro. O inverso também acontece.

Um estudo divulgado pela publicação Scientific Reports mostra que as mulheres são bastante focadas no relacionamento com o marido, numa forte proximidade emocional, tornando-o seus confidentes. À medida que elas envelhecem e atingem a faixa dos 40 anos, o foco muda e passa a ser direcionado a uma mulher mais nova - de forma geral, a filha adulta.

Assim, se o marido era o melhor amigo da mulher, com o passar do tempo essa posição pode ser assumida pela filha. Para os autores do estudo, essa mudança de foco de atenção pode refletir a chegada gradual dos netos. Na opinião da terapeuta neurolinguista Marcelle Vecchi, o amadurecimento está entre os fatores que influenciam no estabelecimento de uma relação mais próxima entre mãe e filha na vida adulta.

“Eu acredito que, aos 40 anos,as pessoas estão numa fase de completo amadurecimento. Isso propicia enxergar e valorizar na filha suas reais qualidades. Antes desse amadurecimento, poderíamos dar mais foco às coisas que precisam melhorar ou até mesmo mudar. Com o amadurecimento, vem a aceitação incondicional, o que facilita os relacionamentos em geral.”

Além disso, com o passar do tempo, também podem surgir situações que criem maior identificação entre elas. “A filha adulta pode já ter a vivência do próprio casamento e a mãe falar mais abertamente sobre esse assunto com ela”, explica a psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira. Se o diálogo entre um casal estiver prejudicado, desgastado, a mulher pode conversar sobre essa questão com a filha, se desejar.

“E a filha é uma pessoa que está sempre presente, é alguém próximo, de confiança.”
Gisele lembra que, em alguns casos, a mulher mais velha já perdeu os pais e vê na filha um ponto de cumplicidade e apoio. “Isso também pode acontecer entre pai e filho”, diz.

No tempo certo

A relação de forte amizade entre mãe e filha é mais tranquila de se administrar quando ambas são adultas. “Acredito que essa amizade é mais fácil e sadia na fase adulta. Enquanto as filhas estão na fase de infância e adolescência, a mãe deve saber desempenhar o papel de mãe e educadora, para que se construa uma base sólida de respeito entre elas”, diz Marcelle.

Gisele tem opinião semelhante e explica que mães impõem limites - coisa que amigos nem sempre fazem. Ela também afirma que, quando adulto, já se tem conceitos e valores sólidos, diferente de quando se é adolescente. “Se a mãe conta sobre a relação dela com o marido para um filho mais novo, isso pode prejudicar uma outra relação - a desse filho com o pai.”

Opostos

E quando mãe e filha estão longe de ter uma amizade e estabelecem uma relação marcada pela disputa? Por que isso acontece? Segundo Marcelle, uma relação conflituosa entre mãe e filha ocorre, principalmente, quando elas são parecidas emocionalmente. “Uma vê na outra seus próprios ‘defeitos’ e não os aceita com facilidade. É como se estivessem negando essas características nelas próprias. É como um espelho que não gostamos da imagem que vemos.”

Mas para aquelas que mantêm um bom relacionamento também é necessário atenção e cuidado. “Mães podem ser amigas e continuar exercendo seu papel original de mãe, e a filha a mesma coisa. Não devemos ultrapassar limites, pois, em algum momento, a filha sentirá a falta da mãe desempenhando seu papel original e o contrário também pode acontecer”, afirma Marcelle.


Sergio Isso
Acassia, 54 anos, e Thaís, 28: mãe e filha são vistas sempre juntas
Relações de amor e cumplicidade

Uma relação de afeto, carinho e respeito. É desta forma que a jornalista Thaís Machado, 28 anos, define a ligação com a mãe. Acassia Mano Sanches, 54, mãe dela, afirma que as duas têm uma uma sintonia e ligação espiritual. E a cada dia essa relação se torna mais forte.

Além de confidente, a mãe de Thaís é parceria profissional. “Minha mãe sempre está por perto, dá dicas, diz quando minha voz não está legal, me posiciona, dá retornos, e já fez vários cursos profissionais comigo.”

E sempre foi assim. A relação tão íntima fez com que um amigo de Thais criasse, há alguns anos, uma comunidade chamada “Mãe da Thaís”, no Orkut. “Tinha mais de 100 seguidores”, lembra. “Nossa relação sempre contou com muita cumplicidade, respeito. O resultado é que nunca discutimos.”

Elas estão sempre juntas, e há quem estranhe essa intimidade. “Certa vez, um amigo perguntou quando eu ia sair da barra da saia da minha mãe. Uma maneira equivocada de ver nossa relação. Entendo que um dia terei de sair de casa, casar e ter filhos. No entanto, sei perfeitamente que sempre vai haver essa proximidade.

É algo completamente recíproco e natural. Não forçamos nada,apenas somos parceiras.”
Para Acassia, a receita para manter a relação saudável é o amor. “As pessoas precisam aprender a amar mais. O amor é capaz de transformar o mundo. O que eu tenho com a Thais é algo muito forte e está baseado em muito amor.”

A troca de olhares entre Maria Eugênia da Silva Escabin e Diva Gonçalves da Silva chama atenção entre amigos e familiares. Com 52 e 85 anos, respectivamente, mãe e filha são cúmplices. A filha conta que é ela quem corta o cabelo da mãe. E, no final de cada tratamento, recebe um “eu te amo”, com a voz baixinha.

Maria Eugênia conta que herdou da mãe alguns dons. “Ela me ensinou a cozinhar e fazer trabalhos manuais.”No próxima dia 26, Diva completa 60 anos de casamento. “Minha mãe era rica e meu pai pobre. Quando se casou com ele, foi deserdada. Mas sempre continuou amando seus pais. Esse é um dos grandes motivos que nos mantêm tão unidas.”
Francine Moreno

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