domingo, 18 de dezembro de 2011

SÓ MAIS UM PEDACINHO
Aprenda a controlar as compulsões para viver melhor nas esferas pessoal, profissional e amorosa


São José do Rio Preto, 18 de dezembro de 2011 Diário da Região - revista Bem Estar

 

Jéssica Reis



Os prazeres e as facilidades da vida são muitos e estão mais acessíveis. Assim, fica difícil resistir à  tentação de comer vários chocolates, falar ao telefone pelo tempo que quiser, comprar alguma coisa só para se satisfazer.
Comer, beber, comprar, trabalhar, falar, gastar demais pode se tornar um vício e, por isso, precisa
de tratamento. Todas essas ações são importantes e fazem em para o ser humano, mas desde que seja na medida certa, para que esses prazeres melhorem a qualidade de vida e não se tornem compulsões para amenizar os problemas do cotidiano. Desenvolver o autocontrole pode melhorar relacionamentos, proporcionar mais qualidade de vida e determinar o sucesso no trabalho, nas relações pessoais e na manutenção da saúde.
As compulsões, segundo a psicóloga Mara Lúcia Madureira, estão relacionadas a pensamentos
inadequados, que contribuem para a causa e manutenção dos comportamentos compulsivos. A especialista diz que a pessoa precisa aprender a avaliar e corrigir seus “esquemas de pensamento” e, desse modo, aprender a controlar desejos aparentemente incontroláveis.
Para a psicóloga, é preciso aprender a identificar as crenças pessoais que conduzem a um pensamento disfuncional e culminam em situações nas quais se manifestam os comportamentos compulsivos.
“No caso de compulsão alimentar, a pessoa acredita que a magreza está relacionada à beleza, aprovação, competência, autocontrole, superioridade, e se sente fracassada e incapaz para solucionar problemas básicos da vida, por se julgar incompetente, inferior e indigna”, exemplifica Mara.
Resistir às tentaçõesnem sempre é fácil e, segundo a psicóloga clínica Kátia Ricardi de Abreu, para conseguir resistir é preciso fazerumplanejamento de ações – e, para isso, cada tipo de compulsão deve ser estudada. “Não há uma causa bem estabelecida para as compulsões, mas acredita-se que haja pessoas com vulnerabilidades e predisposições”, diz a psicóloga Gisele Lelis de Oliveira.
Comer, beber, comprar pouco, fazer tudo na medida certa ajuda a melhorar a qualidade de vida.
“A pessoa se sente mais protegida se não entrar  em contato com aquilo que a leva a perder o controle. Depois, conforme vai evoluindo no seu autocontrole, ela vai aos poucos se sentindo mais  segura para ficar diante do estímulo que antes a levava  a perder o controle”, afirma.
De acordo com Katia, as compulsões precisam ser eliminadas na raiz, e a raiz, geralmente, está
no relacionamento afetivo, desde a infância. “Muitos pais trocam presentes por afeto, ‘se você
me der um beijo, eu te dou uma bala’, ‘se você tirar notas boas na escola, eu te dou aquele brinquedo que você quer’, e assim,  quando a pessoa fica carente, por alguma razão, ela tem  muitas opções para preencher o vazio que o afeto está deixando. Isso ela faz comendo,  comprando, bebendo, trabalhando, sem medida.”
Para Gisele, comportamentos compulsivos podem comprometer a realização de outras atividades
e o bem-estar físico mental, familiar e social das pessoas. “Indivíduos que apresentam  comportamentos  compulsivos sentem grande desconforto emocional. As pessoas que conseguem fazer tudo na medida, ou mesmo com pequenos deslizes, são mais livres”, diz.


Especialistas dão dicas de como se coontrolar diante de alguns vícios.
CELULAR
A psicóloga Kátia Ricardi de Abreu recomenda o uso do aparelho apenas em situações onde não será possível falar pessoalmente. “Vejo muitas pessoas disparando torpedos, jogando ou usando a web pelo celular, sem notar quem está ao seu lado. Na área comercial, vejo  Pessoas atendendo clientes pelo telefone quando há um cliente sentado na mesa diante delas. Priorizar o relacionamento real é uma forma de não exagerar no uso do celular”,  Afirma


RAIVA
A raiva é um sentimento natural do ser humano, mas muitas vezes esse sentimento pode  Levar ao impulso de reagir a determinada situação. A psicóloga Gisele Lelis de Oliveira diz que a raiva faz com que as pessoas experimentem vários pensamentos, sentimentos e até reações físicas, e é expressa, na maioria das vezes, por meio da agressividade. “Há pessoas que conseguem amenizar esses sentimentos por meio de exercícios de respiração, relaxamento, técnicas de meditação. A psicoterapia também pode auxiliar nesse  processo”, afirma a psicóloga
 
ALIMENTAÇÃO
A psicóloga Kátia dá algumas dicas para controlar a compulsão alimentar: “Obedecer  rigorosamente o horário das refeições, comer a cada 4 ou 5 horas sem pular refeições, buscar alternativas quando surgir a vontade de comer, tais como caminhar, praticar exercícios para reduzir a ansiedade, planejar o que vai comer, não ler ou assistir TV enquanto come, mastigar bem e descansar o garfo entre as bocadas, não fazer compras no supermercado nem ir a festas com o estômago vazio, não estocar guloseimas” .


COMPRAS
Segundo a psicóloga Gisele, a compulsão por compras é uma dependência. O consumo gera uma satisfação superficial e imediata. A especialista diz que para uma compradora  compulsiva essa é a única fonte de prazer, ela não resiste ao impulso de comprar, gastando mais do que o planejado. “Nossos hábitos de consumo são mais emocionais do que  racionais. O consumismo é um hábito aprendido, seguido de uma gratificação emocional, muitas vezes um alívio momentâneo de sentimentos de ansiedade, angústia, tristeza”, explica. Pedir ajuda para amigos e familiares para vigiar o comportamento compulsivo  no intuito de ajudar a mudar esse comportamento.

AMOR PATOLÓGICO NA TV

Personagem de Glória Pires mostra amor patológico na TV

26/07/2011 | 18h38min  Site Terra

Quem acompanha a novela Insensato Coração já se pegou roendo as unhas na torcida pela Norma, personagem de Glória Pires, seja para vê-la completar sua vingança ou para que a personagem se dê mal. Na novela, Norma era uma enfermeira que foi seduzida e enganada por Léo, personagem de Gabriel Braga Nunes, e acabou indo parar na cadeia. Apaixonada e magoada, ela arquitetou um plano de vingança para destruir o homem por quem é apaixonada.
Segundo a psicanalista e escritora Tatiana Ades, da capital paulista, o comportamento de Norma é mais comum no nosso dia a dia do que imaginamos. "Ela está bem enquadrada no perfil do amor patológico e da mulher que ama demais, mas se ama de menos. Notamos que ela quer ficar perto dele, tem uma dependência, tanto que a vingança dela não se completa. Ela não o entrega para a polícia, mas fica com ele por perto em uma tentativa de demonstrar poder", explicou.
Gisele Lelis Vilela de Oliveira, psicóloga de São José do Rio Preto (SP), acha que há poucas "Normas" na vida real que aceitam o sentimento de vingança. "Somos humanos e estamos sujeitos às mais diversas mudanças. O sofrimento faz com que mudemos nossa vida, quando somos incomodados por nós mesmos ou por quem se relaciona conosco; No caso da Norma, ela foi instigada pelo outro a mudar e foi uma escolha vingar-se. Algumas pessoas despertadas pelo sofrimento, por uma humilhação ou desprezo, nutrem um sentimento obsessivo de vingança, de 'fazer justiça com as próprias mãos' para tentarem mostrar superioridade quando, na verdade, sentem-se frágeis e ameaçadas", disse.
Tatiana explicou que mais de 50% dos relacionamentos atuais não são saudáveis e este é um problema que vem da infância. "Se buscarmos analisar o passado da Norma, vamos descobrir que ela teve uma família desestruturada, é muito carente e trouxe isso para a vida adulta. Acaba repetindo o perfil", disse. Mulheres com este tipo de comportamento estão sempre se relacionando com homens doentes, como o Léo, que pode ser considerado um sociopata. "As pessoas que amam demais agem por impulso. A Norma mesmo age emocionalmente e em um comportamento de transtorno compulsivo-obssessivo", explicou a psicanalista, que falou que o tratamento para este caso inclui muita terapia.
"A Norma tem características muito singulares. Ela é multifacetada, sofre, sente-se culpada por suas atitudes, mas não deixa de ter a postura vingativa. É obstinada, mas devido à paixão, tem se colocado em situações complicadas. Diferente do Léo, que mostra traços de psicopatia, não mostra remorso ou sentimentos positivos, ela não tem este perfil. Como ela é uma personagem repleta de conflitos, acaba rolando uma identificação com o público e ela age em resposta à sua paixão não correspondida", disse Gisele.
Os riscos de um relacionamento como o de Norma e Léo são altos e não estão presentes apenas na vida dele, alvo da vingança. "Há mulheres que não conseguem se livrar do companheiro porque não entendem como estão com um homem que lhes faz mal. Geralmente há quadros depressivos envolvidos e muitas mulheres, quando não são assassinadas pelo parceiro, acabam se matando por causa da depressão." Gisele concorda com Tatiana: "amar demais é uma doença. O amor no qual existe co-dependência afetiva, em que o outro se torna o centro da vida de alguém, não é saudável e quando se está em um relacionamento com características destrutivas, infeliz e, mesmo ciente não consegue terminar a relação, esta dificuldade é um indício de situação patológica. A dependência afetiva pode ser tão prejudicial quanto qualquer outro tipo de dependência e apesar de não parecer, as mulheres são as únicas vítimas deste mal".
Por acreditarem que este tipo de relacionamento é comum e "padrão", muitas mulheres demoram a buscar ajuda e acabam sofrendo por longo período. "Quando a mulher percebe que passou muito tempo focando sua energia na vingança e não fez nada por si, limitou-se a viver para atrapalhar a vida do outro, acaba sofrendo ainda mais", lembrou a profissional de São José do Rio Preto. Além disso, pessoas com o perfil da Norma costumam buscar relacionamentos que tragam sofrimento e têm problemas de auto-estima. "A Norma não tem ciência do perigo que corre ao se relacionar com um sociopata. Ela não sabe, mas a vítima é ela. E o problema é que homens agradáveis de verdade não atrairiam esse tipo de mulher, porque inconscientemente, ela os desprezaria, buscando repetir o padrão, se relacionando com homens com o mesmo perfil do Léo", disse a psicanalista da capital paulista.
Todavia, há cura para mulheres como a Norma e o primeiro passo é a conscientização de que há um problema no relacionamento, pois principalmente no caso da novela, a personagem oferece riscos à sociedade por já ter matado e manipulado pessoas para chegar ao seu objetivo. "Processos psicoterapêuticos podem ajudar essas mulheres, pois a psicoterapia vai trabalhar motivações e questões relacionadas ao problema, ajudando a buscar nova realidade, novo foco e novas motivações. Mas para isso é preciso que a pessoa assuma que tem o problema", disse Gisele.