segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ORIENTAR OS FILHOS É CAMINHO PARA TENTAR EVITAR AS DROGAS


JORNAL DIÁRIO DA REGIÃO
Escritor por: Cecilia Dionizio
Data: 17/02/2006 

A droga tornou-se parte da sociedade, inclusa em vários espaços sociais: família, escola, lugares de diversão, ambientes de trabalho e outros. Portanto, o papel dos pais e educadores é preparar o adolescente para essa tomada de decisão tão importante na vida dele, e isso exige que se saiba o que dizer e como dizer quando a droga se oferecer a ele. Segundo a psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira, que atua em obras assistenciais de Rio Preto, essa disponibilidade faz com que as crianças sejam obrigadas a defender-se de enfrentar as drogas em uma idade na qual, dificilmente, se tem a maturidade necessária para definições como esta. A psicóloga observa que um bom trabalho preventivo começa na infância, com exemplos, diálogos e com uma noção clara de limites em tudo. Por isso, quanto mais cedo for iniciado o ensino, melhor. Além disso, os pais devem acompanhar com interesse a educação e o desenvolvimento de seus filhos na escola, ajudando-os a serem bem-sucedidos nos estudos e no relacionamento familiar e social.
Gisele afirma que a única maneira que os pais têm para manter os jovens longe das drogas é despertando o senso crítico deles. “Oferecer a eles a oportunidade de expressar seu ponto de vista, discutir, avaliar situações e concluir é fundamental para que possam fazer melhores escolhas, futuramente. Uma família em que o diálogo com os filhos começa cedo, vai ter maior facilidade de aceitação e compreensão do adolescente diante de pedidos e sugestões dos pais”, diz. A psicóloga alerta que a educação permissiva e tolerante pode fazer com que os filhos não tenham compromissos e sejam irresponsáveis, pois não tiveram isso em sua formação, principalmente pela falta de imposição de limites. “Hoje, a prevenção é mostrar o quanto é importante cuidar da saúde física e mental, e promover a possibilidade de que os jovens possam viver sem drogas de um modo saudável, equilibrado e feliz. Portanto, é necessário que os pais procurem se informar sobre as drogas. Não adianta conversar a respeito daquilo que você não entende”, afirma. A dona-de-casa B.G.V., 38 anos, mãe de um adolescente de 14 anos, chora ao dizer que não sabe como foi que seu filho, criado com tanto amor e carinho, se envolveu no mundo das drogas. “Acreditava que sendo uma mãe legal, que deixava ele à vontade, não me traria problemas com isto”. Sempre deixei claro que confiava muito nele.
Mas não foi isto o que aconteceu. Tive de enfrentar uma confusão de sentimentos, e quando fiquei sabendo que as festinhas promovidas entre os amigos dele tinham de tudo, inclusive drogas, foi um choque. “Hoje, graças à ajuda de vários profissionais, estou ajudando-o a sair do vício”, diz. A psicóloga Gisele diz que a única prevenção eficiente consiste em educar para a liberdade e, em fornecer as crianças,inicialmente, e posteriormente aos adolescentes as informações e formação para que eles possam fazer suas escolhas da melhor forma possível. Nos dias de hoje, o adolescente em um ato livre tem de fazer sua escolha entre a recusa e a prática da droga. “É próprio do adolescente viver uma fase contestadora, um período de auto-afirmação em que o discurso repressivo será ineficaz. Isso, pelo contrário promove o consumo da droga como forma de contestar a ordem estabelecida pelos pais e pela sociedade. “Mas caso o adolescente esteja totalmente desorientado, os pais precisam interferir, pois ele precisa saber como pensam os pais para que possa se posicionar diante da vida”, finaliza.

Com atenção é possível identificar o uso
:: Drogas como o ecstasy, uma das mais usadas hoje entre jovens de classe média-alta, já começam a se disseminar entre as classes menos favorecidas. A maioria dos usuários associa o ecstasy com outras substâncias psicoativas, principalmente, a maconha. Seus efeitos se assemelham com a mescalina. No início provoca alucinações visuais em preto e branco que vão se colorindo gradualmente, até provocar a sensação de flutuação;

:: Embora o ecstasy seja consumido algumas vezes na semana, comparado com o uso de outras drogas também pode causar dependência, uma vez que quanto mais usado, maior o nível de tolerância (perda dos efeitos psicológicos pelo uso freqüente)
:: As drogas como um todo, e em especial o ecstasy, podem provocar alterações na percepção do indivíduo.
:: As pessoas sob efeito de drogas podem se tornar volúveis, falar rápida e fluentemente; podem apresentar alterações no humor, tanto para estados de euforia quanto para intolerância e agressividade ou medo e ansiedade intensificados pelo temor de ficar louco ou morrer; aumento da energia física e melhora do estado emocional (elevação da autoestima)
Fonte - Da reportagem

Estudos diversos comprovam os riscos
O grande problema das drogas, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), é que além de causar dependência, elas provocam uma série de problemas no cérebro. Isto vale para qualquer droga, ao contrário do que gostam de afirmar alguns jovens habituados com as bebidas alcoólicas, por exemplo, consideradas lícitas, as quais acham que não causam danos. Além dos usuários de maconha, que professam aos quatro cantos que ela é inofensiva, algo não verdadeiro, conforme demonstram pesquisas mais recentes. O fato é que as drogas, sejam elas quais forem, causam alterações no funcionamento cerebral e neuropsicológico dos usuários. Os estudos apontam que os usuários crônicos de maconha sofrem alterações em áreas do cérebro responsáveis pela atenção, memória, aprendizagem, funções executivas, tomada de decisões, funcionamento intelectual e funções psicomotoras, mesmo após um mês de abstinência. Um estudo realizado pelo
Centro Brasileiro de Informações sobre drogas psicotrópicas (CEBRID), em 2002, conduzido pelo psicobiólogo Elisaldo Carlini, professor da Universidade de São Paulo, estimava que 3.249.000 pessoas já consumiram a droga, o equivalente a 6,9% da população nacional.
Entre a população mais jovem, de 18 a 24 anos de idade, 2,5% dos entrevistados relataram sintomas de dependência da maconha. Portanto, é preciso ficar alerta, segundo a ABP, para os problemas no funcionamento neuropsicológico, especialmente das funções executivas, mediadas pelas regiões pré-frontais do cérebro, de usuários da maconha, por exemplo, que podem influenciar negativamente na motivação para o tratamento e aderência ao programa de recuperação, aumentando as chances de recaída. Apesar dos avanços alcançados, são necessárias mais pesquisas em neuropsicologia, que possam auxiliar na melhor compreensão das conseqüências deletérias do uso crônico da maconha e suas repercussões no tratamento. Para contrariar uma das crenças de muitas pessoas que ainda pensam serem os homens os mais afeitos ao uso, a psicóloga rio-pretense Gisele de Oliveira, que trabalha com adolescentes com idades entre 13 e 17 anos, internadas na Casa Raquel de Recuperação Feminina, afirma que não é bem assim.
Muitas garotas hoje, usam drogas, e muitas delas são provenientes de famílias desestruturadas, hostis em que os papéis de pai e mãe não são bem estabelecidos.“As adolescentes são apresentadas às drogas por namorados, amigos de escola, e por autoafirmação”, fraqueza, medo de serem excluídas do grupo, de serem desprezadas pelos colegas acabam juntando-se a eles”, diz. A psicóloga afirma que a esses fatores junta-se, ainda, a facilidade de acesso à compra e uso da droga. “Muitas delas têm sua vida social totalmente abalada pela dependência da droga e acabam enveredando pelo caminho da prostituição e do crime para manter o vício”, afirma. Muitas vezes, elas alegam curiosidade, no entanto, posteriormente, entendem que isso não provocaria a dependência da droga e que esse foi apenas um dos vários motivos que as levaram ao uso. O sucesso do tratamento de dependência química é muito subjetivo e é necessária a participação efetiva da família.