terça-feira, 26 de julho de 2011

ELES SÓ QUEREM FICAR




JORNAL BOM DIA
Escritor por: Nany Fadil
Data: 24/07/2011


Depois de experimentar por anos uma relação estável, separados e viúvos preferem curtir o momento a entrar em outros relacionamentos formais e duradouros.

Comportamento tipicamente dos adolescentes agora faz parte do cotidiano de rio-pretenses que passaram da casa dos 50 anos. Compromisso sério, não. Eles só querem é “ficar”.
Depois de 44 anos ao lado de um companheiro, a aposentada Benedita Hilda Miochi, 64, ficou viúva e não pensa mais em se casar. “De jeito nenhum. Quero curtir, dançar, jogar vólei e fazer ginástica.”
Não é uma decisão isolada. Especialistas em relacionamento dizem que os idosos não querem compromisso porque querem aproveitar o momento. 
Viúva há quatro meses, Benedita não descarta a possibilidade de encontrar alguém “legal” para um “namorico”. “Não vai passar disso. Nada de planos para o futuro.”
Ela é mãe de três filhos, mas diz que eles não interferem.  Por isso, não se preocupa com possíveis crises de ciúmes.
São exatamente os filhos ciumentos que têm freado a aposentada Wilta Faxim, 74, de se “envolver” com um admirador. Ele já a pediu várias vezes em namoro, mas até agora ela saiu pela tangente. “Digo para ele que só quero dançar.” Mas a amiga Neusa de Lima, 58, afirma: “Ainda vai rolar uns beijos”.
Neusa também é viúva há 15 anos. Ficou casada durante 21. No momento não quer nem “rolinhos”, prefere ficar como está. “Minha vida é muito divertida. Saio, danço, vou ao cinema, às compras. Tenho uma liberdade que não tinha antes e não vou abrir mão. Mas se aparecer alguém, quem sabe?”

O professor de dança Celso Jacinto, 56, está há 11 anos separado. Hoje, se diz comprometido e apaixonado. Mas isso não quer dizer obrigatoriamente que ele pretende laços. “O que importa é o relacionamento, curtir o outro, estar do lado nos momentOs bons e ruins, amar.” 
A recepcionista Nadir de Carvalifo, 64, nem experimentou as delícias e agruras do casamento para ser tão categórica, mas: “Juntar as escovas de dente, jamais.”
Solteira convicta, diz que subir ao aliar nunca fez parte de seus planos, mas está sempre “enrroscada” com um ex-namorado. “Quando agente se e1ontra ficamos. Depois, cada um para o seu lado.” 
Para o professor do Instituto de Psicologia da USP Ailton Amélio da Silva, durante muitos anos a união entre duas pessoas caminhou dentro de uma forma de número único. “Essa numeração 37, por exemplo, tinha de servir aos pés de todos, era o casamento. Mas para alguns ficava largo e para outros apertado.” 
Augusto Martins, 66, sente isso. Saiu de uma união formal que não deu certo e aproveita agora para conhecer outras mulheres. “Elas sabem que o que eu quero é diversão. Tempo atrás, eu seria considero um velho assanhado. Hoje, sou o rei dos salões”, diz, rindo.


Mudanças de comportamento faz parte de uma nova cultura

"O amor não está vinculado ao casamento. A maturidade ensina isso", diz a psicóloga de Rio Preto, Gisele Lelis Vilela de Oliveira.
Ela defende que todas as formas de amar valem a pena.
"São pessoas de uma época em que não casar era uma grande problema. Agora preferem desfrutar os momentos da vida."
Aos 64 anos, a recepcionista Nadir Carvalho sabe bem como funcionavam as imposições. É de uma época em que a família se sentia na obrigação de casar seus filhos. Assume que sofreu preconceito e teve de vencer as imposições da sociedade e familiares. "Decidi que viveria do jeito que acredito ser feliz."
Para a psicóloga, essa mudança de comportamento entre os que estão acima dos 50 anos é retrato de uma sociedade que permite mais às pessoas. "Isto é ótimo."
Ela classifica como uma nova cultura dentro da diversidade de possibilidades de relacionamentos.
São pessoas que não "precisam" mais casar, constituir família, ver os filhos crescerem, participarem e, então, passar o resto de seus dias em frente à TV ou fazendo trabalhos manuais.
"Os mais velhos decidiram que não querem isso para suas vidas. É mais saudável "ficar", no sentido de experimentar o amor, do que casar para atender uma expectativa da sociedade."
A especialista, porém, chama a atenção para o fato de ter aumentado os casos de aids em Rio Preto entre os grupos de pessoas acima de 50 anos (veja quadro abaixo).
Afirma que para muitos o preservativo era usado apenas nas relações extra-conjugais.
"Com essa mudança cultural é preciso que as pessoas entendam que o preservativo é para evitar doenças e não só graividez, problema que não enfrentam mais."


O QUE VALE É AMAR
"É mais saudável "ficar", e experimentar o amor, do que casar para atender expectativas"
__Gisele Lelis Vilela de Oliveira psicóloga