quarta-feira, 29 de junho de 2011

QUER NAMORAR COMIGO


REVISTA DOMÍNOS
Escritor por: Daniela Batista
Data: Junho de 2011


ESTÁ DIFÍCIL ENCONTRAR UM COMPANHEIRO? PELO MENOS NAS ESTATÍSTICAS VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO.


"Quero muito encontrar alguém para um compromisso sério, namoro e até mesmo casamento. Não gosto de ficar sozinho". A queixa do publicitário Bruno, de 32 anos, é cada vez mais comum entre homens e mulheres. Mas, se todos reclamam da mesma coisa, onde está o problema? Pelas queixas, encontrar um amor no meio da multidão, na balada ou até mesmo na fila do cinema ou supermercado está cada vez mais difícil. E as estatísticas não ajudam. Em sua tese de mestrado, intitulada "Por que eu não tenho uma namorada?" o matemático inglês Peter Backus descobriu que as chances de ele encontrar uma mulher com o perfil desejado (nível universitário, entre 24 e 34 anos, fisicamente atraente e que morasse perto dele) eram de apenas 0,0034%. Mas não se desespere! Esse número melhora em 42% se você contar com ajuda da internet.

Mas então como conhecer pessoas? A resposta pode estar em outra pesquisa, feita pelo doutor e professor de Psicologia da USP, Ailton Amélio da Silva.  Autor do livro "Relacionamento amoroso – como encontrar sua metade ideal e cuidar dela" e de outros livros sobre o tema. Ele investigou o assunto e descobriu que os casais se formam da seguinte maneira:  37% dos casais já eram amigos ou já se conheciam, 32% foram apresentados por um conhecido em comum, 20% foram abordados por um desconhecido, 4% foram encontros casuais (fila de banco, supermercado etc) e apenas 1% conseguiu encontrar sua cara metade por meio da internet ou agências especializadas.
Mas o que dizer das pessoas que têm amigos, saem às ruas, vão ao banco, ao  supermercado, acessam a internet e mesmo assim estão sozinhas? Para o especialista, as causas são muitas: "Hoje as pessoas têm menos razões para assumir compromissos porque o casamento foi esvaziado: É possível ter acesso a quase tudo que antes só era possível após o casamento (sexo, companhia, consideração social etc.) Então, para que casar?", explica o psicólogo. E mais: "A decisão para assumir um compromisso importante geralmente é difícil, exige muitas informações, maturação e causa apreensão. Nos dias de hoje, quando os casamentos estão acontecendo cada vez mais tardiamente (após terminar a faculdade, fazer pós, se integrar ao mercado de trabalho etc), os jovens adiam os compromissos no campo amoroso por motivos externos e compreensíveis." Esse é o caso do estagiário e baixista da banda Week6, Marlon Roberto Ferri, de 19 anos, que não tem pressa em ser flechado pelo cupido: "No momento, encontrar alguém não é minha prioridade. Estou muito ocupado com o estudo, trabalho e com a banda. Então se acontecer, ótimo."
Infelizmente também não aconteceu para o jornalista Silvio Atanes, de 52 anos, que engrossa a lista dos "desempregados do coração". Ele conta que já deixou escapar umas "cinco ou seis" oportunidades de casamento: "Na época não queria nada sério e agora que quero, não consigo", diz o solteirão que vê na idade uma das razões do seu infortúnio: "As pessoas da minha faixa etária estão casadas, separadas ou não querem mais se relacionar." Para ele, o mais difícil é encontrar uma pessoa disposta a compartilhar a vida, os sentimentos e que goste de conversar: "Não dá para ser egoísta. Quando começamos um relacionamento precisa haver uma parceria. Cada um precisa dar sua contribuição."
Mas, se para os homens está sendo difícil, para o "sexo frágil" existe um agravante. Segundo o Censo de 2010, no Brasil existem 3,9 milhões a mais de mulheres que homens. Em Rio Preto esse número é de 16 mil. Ou seja, a rio-pretense que tem o seu, deve agarrá-lo com unhas, dentes, batom, perfume e muito amor.
Tudo pelo social Alguém pra chamar de seu
Mas e se a busca por um relacionamento estável for uma imposição social e não uma escolha? Essa é uma questão levantada pela psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira. Para ela, antes de tudo, é preciso que as pessoas busquem o autoconhecimento para saber o que realmente querem: "Algumas pessoas passam muito tempo buscando um relacionamento sério e, quando conseguem, percebem que não era bem aquilo que estavam querendo e chegam até a recuar." Segundo Gisele, o ideal é que as pessoas aproveitem a fase de solidão para se questionar: "Além da questão do autoconhecimento, essa é uma ótima época para se desafiar, tentar coisas novas e fazer amizades. A solidão tem vários aspectos positivos, ela não precisa ser cinza, pode ter várias cores."
E a vida está sendo assim, bem colorida, para a farmacêutica Lívia, de 38 anos. Solteira há sete meses, ela sente que o voo solo está lhe "fazendo muito bem": "Saio com minhas amigas, vou ao cinema, saio para tomar um café." Sem ter desistido do amor, ela acredita que poderá conhecer sua alma gêmea de duas formas: com amigos em comum ou em uma fila de cinema ou supermercado. "Em Rio Preto é difícil, depois de certa idade não existe um lugar para conhecer pessoas."
Bruno, o publicitário do começo desta matéria, também tem dificuldade quando o assunto é sair de casa: "Não gosto de sair sozinho, mas, quando não tem jeito, vou assim mesmo. O mais difícil é ir ao cinema desacompanhado, pois não tenho com quem comentar o filme após a sessão."
A internet vem revolucionando as formas como as pessoas se relacionam, seja no trabalho ou no âmbito social e este fenômeno também atinge os relacionamentos amorosos
Tudo bem, você decidiu que não quer mais ficar sozinho, mas o que fazer? Especialistas dizem que é possível, sim, tomar algumas atitudes para ajudar o cupido. Segundo a psicóloga Gisele, uma dica é estar com a autoestima em dia: "Cuide da sua aparência e não faça o papel de vítima, ninguém gosta de pessoas que ficam apenas se lamentando." Outra dica, do psicólogo Ailton, é: se estiver interessado em alguém em um grupo, seja bem-humorado, gentil e converse sobre vários assuntos. E mais: não vá direto ao assunto: "A descoberta do outro e o romantismo são etapas importantes, que não devem ser queimadas." Outra dica do psicólogo é ser natural: "A sedução baseada num roteiro feito de caras, bocas, gestos e comportamentos ensaiados raramente funciona. A falta de naturalidade é percebida de longe nas situações que envolvem conquista, nas quais se estabelecem "diálogos corporais", cuja interpretação ocorre no inconsciente, sem possibilidade de armações, mentiras e fingimentos", explica. Por fim, os candidatos a "alma gêmea" não devem restringir sua busca apenas à visão idealizada de um parceiro e devem também controlar a ansiedade: "Dê uma chance às pessoas que não se encaixarem no seu ideal de perfeição e, na fase da paquera, evite falar sobre casamento e filhos, pois assim você pode acabar assustando o pretendente".  

Cupido digital
Chat, redes sociais, sites de relacionamento... O cupido definitivamente entrou na era digital, aumentando as chances dos solteiros encontrarem alguém em até 42% (em comparação aos métodos convencionais, segundo pesquisas). Essa é a proposta do site ParPerfeito, que conta com 30 milhões de solteiros cadastrados em todo o Brasil. Os candidatos têm, em média, de 25 a 45 anos, são economicamente ativos e a maioria (38%) tem nível superior. A dor no bolso é pequena, se comparada à do coração. Para encontrar alguém (ou ser encontrado), é preciso pagar R$ 39,99 por mês ou R$ 19,99 por uma assinatura trimestral.  Segundo o presidente do site, Claudio Gandelman, entre as vantagens de conhecer alguém por meio desse serviço, estão a segurança e a praticidade: "É possível conversar bastante com a pessoa pelo site antes de conhecê-la pessoalmente. Além disso, quando você sai para uma festa, balada ou bar, mesmo que tenha cerca de 200 pessoas, você consegue conversar com, no máximo, duas. No ParPerfeito, em alguns momentos chegamos a ter 15 mil usuários online, então a chance de você conhecer alguém que seja compatível com o seu perfil é muito maior', explica.
Priscila e Waldir, um "par perfeito"
Durante o cadastro no site, o candidato preenche um perfil completo que indica suas características físicas, interesses, tipo de relacionamento que procura, hábitos etc. Depois, basta que o usuário procure por alguém com as características desejadas. Segundo Gandelman, uma dica para ser encontrado mais facilmente é inserir uma foto "Sabemos que perfis desse tipo são 15 vezes mais vistos que os outros", explica. O tempo médio para encontrar alguém com esse serviço é de seis meses. "Brinco que o nosso é o único negócio em que queremos que o cliente vá embora", finaliza o presidente.
De olho no mercado eletrônico dos "avulsos" que já cresceu 500% nos últimos dez anos (segundo o Oxford Internet Institute), há seis meses o eHarmony veio disparar suas flechas nos brasileiros. Criado nos EUA, o site já realizou vários casamentos naquele país. O diretor geral da eHarmony no Brasil, Stanlei Bellan, acredita ser possível encontrar um grande amor usando sites que focam em relacionamentos sérios e duradouros: "A internet vem revolucionando as formas como as pessoas se relacionam, seja no trabalho ou no âmbito social e este fenômeno também atinge os relacionamentos amorosos", diz o diretor.
O eHarmony funciona da seguinte maneira: após preencher o cadastro com 400 perguntas, o candidato recebe indicações de perfis compatíveis com sua busca. A quantidade desses perfis varia de acordo com os filtros de preferência e personalidade de cada um. Há pessoas que buscam perfis bem específicos e outras que buscam perfis mais variados. Quando há interesse, o próximo passo é usar o "processo de comunicação passo-a-passo": "Esta ferramenta ajuda os casais em potencial a descobrirem informações importantes sobre si na fase em que estão se conhecendo, de forma segura e estruturada. Este processo permite que os assinantes se comuniquem sem trocar informações pessoais até que se sintam seguros." diz o diretor. O perfil dos candidatos são homens e mulheres de 25 a 45 anos, com  curso superior completo e que transitam entre as classes A e B. Uma das vantagens deste site é que usuários cadastrados no serviço têm acesso gratuito ao seu "estudo de personalidade" e a perfis das pessoas que combinam com eles. Já o acesso a fotos dos perfis e comunicação com pessoas compatíveis são serviços exclusivos para assinantes. Os preços de pacotes da eHarmony variam de R$ 24,95 por mês, no plano anual a R$ 59,95, no plano mensal.
"Eu tinha 43 anos na época e estava saindo de um relacionamento de 18 anos. Da noite para o dia, me deparei com uma vida totalmente diferente, estava solteiro e sozinho e não conseguia mais acompanhar meus amigos, todos casados. Sou uma pessoa caseira, não curto noitadas, bares, baladas e estava totalmente deslocado, até que uma amiga falou do site ParPerfeito. Já havia ouvido falar que era possível encontrar alguém por lá e foi o que fiz. Descobri que o site é verdadeiro e que tem pessoas sérias nele. Quando digo aos outros que conheci a Priscila através do site, existe uma reação positiva e negativa, maior até a negativa. Nós a encaramos, e fomos atacados de todas as maneiras, sentimos essa reação por parte de familiares, amigos e pessoas próximas que nos conheciam. Presenciei várias vezes a Priscila chorando por saber dos comentários. Superamos tudo isso porque o amor sempre vence, e a palavra de Deus nos orientou sempre."

Depoimento de Waldir Francisco Bueno, 47 anos, gestor de negócios que encontrou sua Priscila pelo ParPerfeito há quatro anos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

CRIANÇAS CUIDAM DA CASA E DE OUTRAS CRIANÇAS

 

JORNAL BOM DIA
Escritor por: Adermir Terradas
Data: 15/06/2011

Dados do IBGE mostram que Rio Preto tem 300 menores,com idades entre 10 e 14 anos, responsáveis pelas tarefas domésticas durante o dia


Cuidar da casa  e tomar conta de irmãs ou sobrinhos menores durante o dia  são  responsabilidades de 300 crianças e adolescentes  com idades dentre 10 e 14 anos de idade, em Rio Preto.
É o que mostra detalhamento do Censo 2010 divulgado pelo  IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.
Neste grupo, por exemplo, está a  menor F.S.(foto), que tem 13 anos e cuida do sobrinho  de um ano e seis meses.
Todos os dias, quando chega da escola por volta das 12h30, fica com o garoto para que a mãe, a irmã e o padrasto possam trabalhar.
Além de cuidar do garoto, a menina ajuda na limpeza da casa. “Estou acostumada, deixo para brincar e fazer as coisas que gosto no fim de semana”, conta ela, que mora no Parque da Cidadania e está no sétimo ano do ensino fundamental.
Também na zona norte, o jovemC.P.L.A., que mora no bairro Macedo Teles, e cuida de dois sobrinhos menores, um que tem sete meses e o outro de um ano e seis meses.
O garoto, hoje com 15 anos, ajuda os avós desde que tinha 9. Órfão de pai e mãe, vive com os avós, um tio e outros três irmãos, de 11, 13 e 19 anos.
Como a irmã mais velha trabalha em um supermercado e a avó tem dificuldades para andar por causa de problemas na coluna, é ele que passa pano no chão e cuida dos sobrinhos.
Apaixonado por futebol, sonha em ser jogador, mas só consegue praticar o esporte favorito nas aulas de educação física da escola que frequenta no bairro Castelinho.
“Sempre ajudei em casa, não acho que seja um problema para mim. O importante é que a família precisa de mim e eu ajudo”, afirma o garoto.
Aluno do oitavo ano do ensino fundamental, ele levanta diariamente  às 5h  para conseguir chegar, de ônibus, a escola às 7h20.
Do outro lado da cidade, no bairro Vitória Régia, a adolescente I.F., já tem suas obrigações diárias bem definidas. Quando chega da escola, por volta das 13h, prepara o almoço, geralmente  comida que sobrou do  jantar no dia anterior.
F.S., 13 anos, segura o sobrinho de 1 ano e seis meses em frente à casa onde vive com a família no Parque da Cidadania, na zona norte de Rio Preto; cuidar do garoto é rotina seguida à risca
Até as 17h tem de limpar a casa e lavar a louça, antes de buscar a sobrinha de 3 anos na creche. “Quando ela [sobrinha] dorme na minha casa, sou eu quem a leva para a creche, antes de ir para a escola”, afirma a menina de 13 anos.
Essa rotina foi estabelecida há três anos, depois que a menina perdeu o pai e a mãe começou a trabalhar fora.
Na mesma época, a irmã mais velha deu à luz a única filha, hoje amiga inseparável da tia. Quando perguntada, a menorzinha diz: “Quero  ser como ela  quando crescer”.
Segundo ela, a rotina não atrapalha os estudos. “Tiro boas notas e nunca falto à escola”, garante a menina.
Na cidade
De acordo com dados do Censo, a maioria absoluta dos menores de 10 a 14 anos que cuidam da casa vive na zona urbana. Desse grupo, apenas dez menores vivem em sítios e chácaras da cidade

137.312 
é o número de famílias que vivem em Rio Preto segundo o Censo 2010

Maiores
O Censo também apontou que outros 1.260 adolescentes com idade entre 15 e 19 anos são responsáveis pela casa durante o dia em Rio Preto

Segundo psicóloga, cobrança pode gerar sequelas em personalidade

Para a psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira, o excesso de responsabilidade e as cobranças sobre crianças e pré-adolescentes que cuidam de casa e dos irmãos menores podem gerar sequelas tanto para o menor quanto para os outros menores cuidados por eles.
“A criança menor precisa entender o que é autoridade. E só os pais e pessoas maiores de idade podem dar à criança noção do que é respeito aos mais velhos”, explica a especialista.
Outro problema dessas situações, segundo ela, é a exigência de horários e acumulo de responsabilidade. “O menor precisa ter horários para brincar, se divertir e estudar no período em que não está nas escolas”, afirma.
Para ela, uma sequela grave é o pré-adolescente se sentir como um empregado dos pais, com a exigência de, por exemplo, deixar a casa limpa e arrumada antes de os dois chegarem em casa.
Ela explica que os pais precisam dar tarefas aos filhos, mas isso deve servir apenas para ensiná-los a cuidar das próprias coisas.
“Tarefas como limpar o quarto, guardar os brinquedos e manter as coisas em ordem são muito importantes para que eles entendam que é fundamental cuidar de si e daquilo que lhe pertence”, diz a psicóloga.
No caso das tarefas domésticas, como limpar o chão, preparar a comida, lavar a louça ou ainda lavar e passar a roupa podem ser feitas pelos menores, mas em companhia dos pais e esporadicamente.
“Essa é uma maneira de estreitar o laço entre pais e filhos, além de uma oportunidade para as crianças e pré-adolescente aprenderem a cuidar da casa e de si”, afirma.
Para os casos citados anteriormente, ela sugere que seria melhor ter um maior de idade responsável pela tarefa com a opção de o menor ajudar, mas sem que as tarefas se tornem responsabilidades permanentes.
“As brincadeiras e a prática de esportes é fundamental para a formação da personalidade das pessoas, para que ela aprenda a se relacionar com o mundo e com as outras pessoas. 


Quando um monte de responsabilidades é jogada dobre elas, algumas etapas são ‘queimadas’ e isso pode trazer sequelas futuras”, conclui a psicóloga.



quarta-feira, 1 de junho de 2011

CASAR VALE A PENA

JORNAL DIÁRO DA REGIÃO
Escritor por: Gisele Bortoleto
Data: 29/05/20011

Por que o casamento não sai de moda? Porque é alimentado por um combustível renovável eiinerente à condição humana: o amor


O mundo parou recentemente e por algumas horas as atenções de milhões de pessoas se voltaram para a Inglaterra. O motivo foi assistir pela televisão ao casamento de dois jovens, o príncipe William e a plebéia Kate Middleton, uma união de conto de fadas. Apesar de toda a modernidade, da quebra de valores, casamento não sai de moda. As pessoas continuam se casando e, o que é mais importante, sonhando e se emocionando com o ritual. O principal motivo para tudo isso? O amor.

É o caso de Michele Soares, 24 anos. Gerente de um grande banco, linda e bem sucedida, namora José Rudnei, gerente de um grupo comercial com quem vai se casar em março do ano que vem. Tem todos os ingredientes para se tornar uma pessoa individualista e deixar a responsabilidade que um casamento exige para depois. Mas não. Começaram a namorar quando ela tinha 15 anos e ele 19. Amadureceram juntos e descobriram uma vontade comum: a de formar uma família. “Eu quero ter uma pessoa do meu lado para compartilhar tudo comigo”, diz.

Há cerca de um ano, decidiram que já era hora de iniciar o projeto para o casamento. Ela cuida dos preparativos, enquanto ele das obras de construção da casa onde vão morar. Ela garante que o amor foi o ingrediente principal que os levou a pensarem casamento. “A gente se ama demais. Se não existe amor, você não tem nem vontade de conversar com a pessoa, o que dirá pensar em casar”, explica.

Por vários motivos, as pessoas continuam se casando. O principal, por amor. Mas também se casam para não ficarem sozinhas, por causa da idade, por causa do tempo longo de namoro, e assim por diante... A jornalista norte-americana Pamela Paul estudou essa questão por meio de entrevistas (The Starter Marriage and the Future of Matrimony – O Primeiro Casamento e o Futuro do Matrimônio) e diz que a resposta é unânime: as pessoas se casam por amor. O segundo maior motivo é o desejo de construir um lar que represente conforto e segurança, mas o amor também foi citado como razão principal.

E apesar de muitos dizerem que o casamento é uma instituição que está com os dias contados, o espiritismo, religião que acredita na evolução do espírito através da reencarnação, afirma que a união permanente de dois seres pelo casamento está de acordo com a lei da natureza e é um progresso na marcha da humanidade. A sua abolição seria regredir à vida dos animais.

Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec diz que a união livre e fortuita dos sexos é um estado de natureza. O casamento estabelece a solidariedade fraterna, observa-se entre todos os povos e se constitui um dos primeiros atos de progresso das sociedades humanas. Sem ele, o homem regrediria à infância da humanidade e se colocaria abaixo mesmo de certos animais que lhes dão o exemplo das uniões constantes. O espiritismo diz ainda que a abolição da poligamia pela maioria das culturas marca um progresso da sociedade. “O casamento  conforme os desígnios de Deus, deve estar fundado na afeição dos seres que se unem. Com a poligamia, não há afeição real: há apenas sensualidade”, diz Kardec, o codificador da doutrina.

A psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira diz que acredita na potencialidade das escolhas, das decisões, e o casamento é uma decisão. Ela diz que a opção pelo casamento deve ser bem pensada, pois a partir do momento em que nos decidimos por ele, passamos a fazer uma interseção das histórias de vida do par. Com isso, passa-se a construir um terceiro mundo.

Nesse novo mundo, os dois passarão a ter um jeito próprio de viver, que implica em mudanças e nova organização interna para compor junto ao outro nas novas decisões, nos objetivos,nos planos, que a partir disso passam a ser feitos em conjunto.

“Cada casal tem um jeito singular de viver essa união. Aliás, a escolha do parceiro se dá a partir de diversos motivos, de diversas vivências emocionais. Por isso, é importante avaliar o que está buscando na relação”, afirma. Muitas pessoas escolhem o parceiro com a expectativa de que ele supra suas deficiências e dificuldades. Mas pode ser frustrante construir uma relação baseada naquilo que não temos e achamos que, de alguma forma, o outro pode nos dar. Isso não acontece. O outro deve somar junto a você. 

O modelo de relação de cada casal será construído no dia a dia, no estar junto, no compartilhar coisas, momentos, afetos e relacionamentos. 

Gisele diz ainda que, no casamento, há restrições quanto à liberdade e autonomia. No entanto, quando há comprometimento na relação, ela pode ser muito rica e contribuir para o desenvolvimento dos vínculos e no aprofundamento da relação amorosa.

Os momentos de crises fazem com que o casal tenha de dialogar e assim se reorganizar, se transformar, criar novas formas de se relacionar, deixando o lugar comum para criar novas possibilidades, novos olhares, novos e diferentes papéis, novo modo de se relacionar.

Negociar regras, tempo, valores, normas e planos para o futuro faz parte da construção do casamento, do desenvolvimento pessoal e da parceria. No casamento, essa nova configuração irá proporcionar grandes transformações, mas nem tudo são flores. As mudanças podem provocar conflitos e crises, e isso faz parte do relacionamento, do processo de adaptação e reorganização do casal a fim de atender às novas necessidades.

“Essa construção requer desejo de realizar, disponibilidade para mudanças e readaptações da vida”, explica Gisele. Com isso, os casais criam suas próprias obras, únicas e repletas de experiências singulares, nas quais o exercício de estar com o outro pode proporcionar um grande desenvolvimento emocional.

A psicóloga Carolina Fernandes Todesco, terapeuta individual, familiar e de casais, afirma que, num mundo onde a velocidade e a rotina tomaram conta da vida das pessoas, a individualidade e o isolamento não têm espaço quando o assunto é a realização pessoal e afetividade: o ser humano precisa do outro.

Hoje, os  papéis de gênero vêm sendo revistos, as famílias se estruturam de diferentes formas e o modelo de casamento vem sofrendo mudanças. “Porém, a união e o relacionamento interpessoal são atitudes que, independente das influências externas e rituais, ainda permanecem no estilo de vida projetado pelo homem, o que descarta a possibilidade dessas ações serem extintas na sociedade”, explica.


O psicólogo clínico Ailton Amélio, professor da Universidade de São Paulo e autor dos livros “Relacionamento Amoroso” (Publifolha), “Para Viver Um Grande Amor” (Editora Gente) e “O Mapa do Amor”(Editora Gente), diz que, para uma relação dar certo, o casal precisa ser similar na faixa etária, escolaridade, religião condição econômica e raça. É preciso ainda escolher alguém que tenha as características pessoais importantes para você. Ninguém muda com facilidade e começar uma relação achando que o outro deixará de ser mulherengo vai deixar um vício ou se tornar mais sociável é irreal. Ambos devem ainda investir na relação de forma equilibrada. Se apenas uma das partes investir, mais cedo ou mais tarde surgirão ressentimentos. “Divergências acontecem, mas é a frequência com que aparecem, a importância que se dá e como o casal lida com elas que vai ser determinante”, diz.

Mas Amélio acredita que o amor continuará sendo o componente mais importante nas relações. “O amor une, dá emoção e energia ao relacionamento”, diz.

Bem à saúde
A ciência e a medicina não podem estar tão erradas quando apontam que o casamento traz benefícios mentais aos casados. Um estudo australiano, realizado na Universidade de La Trobe, em Melbourne, mostrou que a saúde menta lde homens e mulheres melhora com o casamento: apenas13%dos participantes casados sofriam de estresse. 

O psicólogo David de Vaus, da Universidade de LaTrobe, disse que quando analisou os dados de uma pesquisa sobre saúde mental com mais de 10 mil adultos, descobriu que 25% de homens e mulheres solteiros eram infelizes. Entre as mulheres pesquisadas, as casadas e com filhos tiveram a menor incidência de problemas relacionados à saúde mental.

A Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), fez um levantamento com 35 mil pessoas em 15 países diferentes e descobriu que homens e mulheres ficam menos aptos a desenvolver depressão e ansiedade após o casamento. _ (GB)