quarta-feira, 15 de junho de 2011

CRIANÇAS CUIDAM DA CASA E DE OUTRAS CRIANÇAS

 

JORNAL BOM DIA
Escritor por: Adermir Terradas
Data: 15/06/2011

Dados do IBGE mostram que Rio Preto tem 300 menores,com idades entre 10 e 14 anos, responsáveis pelas tarefas domésticas durante o dia


Cuidar da casa  e tomar conta de irmãs ou sobrinhos menores durante o dia  são  responsabilidades de 300 crianças e adolescentes  com idades dentre 10 e 14 anos de idade, em Rio Preto.
É o que mostra detalhamento do Censo 2010 divulgado pelo  IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.
Neste grupo, por exemplo, está a  menor F.S.(foto), que tem 13 anos e cuida do sobrinho  de um ano e seis meses.
Todos os dias, quando chega da escola por volta das 12h30, fica com o garoto para que a mãe, a irmã e o padrasto possam trabalhar.
Além de cuidar do garoto, a menina ajuda na limpeza da casa. “Estou acostumada, deixo para brincar e fazer as coisas que gosto no fim de semana”, conta ela, que mora no Parque da Cidadania e está no sétimo ano do ensino fundamental.
Também na zona norte, o jovemC.P.L.A., que mora no bairro Macedo Teles, e cuida de dois sobrinhos menores, um que tem sete meses e o outro de um ano e seis meses.
O garoto, hoje com 15 anos, ajuda os avós desde que tinha 9. Órfão de pai e mãe, vive com os avós, um tio e outros três irmãos, de 11, 13 e 19 anos.
Como a irmã mais velha trabalha em um supermercado e a avó tem dificuldades para andar por causa de problemas na coluna, é ele que passa pano no chão e cuida dos sobrinhos.
Apaixonado por futebol, sonha em ser jogador, mas só consegue praticar o esporte favorito nas aulas de educação física da escola que frequenta no bairro Castelinho.
“Sempre ajudei em casa, não acho que seja um problema para mim. O importante é que a família precisa de mim e eu ajudo”, afirma o garoto.
Aluno do oitavo ano do ensino fundamental, ele levanta diariamente  às 5h  para conseguir chegar, de ônibus, a escola às 7h20.
Do outro lado da cidade, no bairro Vitória Régia, a adolescente I.F., já tem suas obrigações diárias bem definidas. Quando chega da escola, por volta das 13h, prepara o almoço, geralmente  comida que sobrou do  jantar no dia anterior.
F.S., 13 anos, segura o sobrinho de 1 ano e seis meses em frente à casa onde vive com a família no Parque da Cidadania, na zona norte de Rio Preto; cuidar do garoto é rotina seguida à risca
Até as 17h tem de limpar a casa e lavar a louça, antes de buscar a sobrinha de 3 anos na creche. “Quando ela [sobrinha] dorme na minha casa, sou eu quem a leva para a creche, antes de ir para a escola”, afirma a menina de 13 anos.
Essa rotina foi estabelecida há três anos, depois que a menina perdeu o pai e a mãe começou a trabalhar fora.
Na mesma época, a irmã mais velha deu à luz a única filha, hoje amiga inseparável da tia. Quando perguntada, a menorzinha diz: “Quero  ser como ela  quando crescer”.
Segundo ela, a rotina não atrapalha os estudos. “Tiro boas notas e nunca falto à escola”, garante a menina.
Na cidade
De acordo com dados do Censo, a maioria absoluta dos menores de 10 a 14 anos que cuidam da casa vive na zona urbana. Desse grupo, apenas dez menores vivem em sítios e chácaras da cidade

137.312 
é o número de famílias que vivem em Rio Preto segundo o Censo 2010

Maiores
O Censo também apontou que outros 1.260 adolescentes com idade entre 15 e 19 anos são responsáveis pela casa durante o dia em Rio Preto

Segundo psicóloga, cobrança pode gerar sequelas em personalidade

Para a psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira, o excesso de responsabilidade e as cobranças sobre crianças e pré-adolescentes que cuidam de casa e dos irmãos menores podem gerar sequelas tanto para o menor quanto para os outros menores cuidados por eles.
“A criança menor precisa entender o que é autoridade. E só os pais e pessoas maiores de idade podem dar à criança noção do que é respeito aos mais velhos”, explica a especialista.
Outro problema dessas situações, segundo ela, é a exigência de horários e acumulo de responsabilidade. “O menor precisa ter horários para brincar, se divertir e estudar no período em que não está nas escolas”, afirma.
Para ela, uma sequela grave é o pré-adolescente se sentir como um empregado dos pais, com a exigência de, por exemplo, deixar a casa limpa e arrumada antes de os dois chegarem em casa.
Ela explica que os pais precisam dar tarefas aos filhos, mas isso deve servir apenas para ensiná-los a cuidar das próprias coisas.
“Tarefas como limpar o quarto, guardar os brinquedos e manter as coisas em ordem são muito importantes para que eles entendam que é fundamental cuidar de si e daquilo que lhe pertence”, diz a psicóloga.
No caso das tarefas domésticas, como limpar o chão, preparar a comida, lavar a louça ou ainda lavar e passar a roupa podem ser feitas pelos menores, mas em companhia dos pais e esporadicamente.
“Essa é uma maneira de estreitar o laço entre pais e filhos, além de uma oportunidade para as crianças e pré-adolescente aprenderem a cuidar da casa e de si”, afirma.
Para os casos citados anteriormente, ela sugere que seria melhor ter um maior de idade responsável pela tarefa com a opção de o menor ajudar, mas sem que as tarefas se tornem responsabilidades permanentes.
“As brincadeiras e a prática de esportes é fundamental para a formação da personalidade das pessoas, para que ela aprenda a se relacionar com o mundo e com as outras pessoas. 


Quando um monte de responsabilidades é jogada dobre elas, algumas etapas são ‘queimadas’ e isso pode trazer sequelas futuras”, conclui a psicóloga.



Nenhum comentário:

Postar um comentário