quarta-feira, 1 de junho de 2011

CASAR VALE A PENA

JORNAL DIÁRO DA REGIÃO
Escritor por: Gisele Bortoleto
Data: 29/05/20011

Por que o casamento não sai de moda? Porque é alimentado por um combustível renovável eiinerente à condição humana: o amor


O mundo parou recentemente e por algumas horas as atenções de milhões de pessoas se voltaram para a Inglaterra. O motivo foi assistir pela televisão ao casamento de dois jovens, o príncipe William e a plebéia Kate Middleton, uma união de conto de fadas. Apesar de toda a modernidade, da quebra de valores, casamento não sai de moda. As pessoas continuam se casando e, o que é mais importante, sonhando e se emocionando com o ritual. O principal motivo para tudo isso? O amor.

É o caso de Michele Soares, 24 anos. Gerente de um grande banco, linda e bem sucedida, namora José Rudnei, gerente de um grupo comercial com quem vai se casar em março do ano que vem. Tem todos os ingredientes para se tornar uma pessoa individualista e deixar a responsabilidade que um casamento exige para depois. Mas não. Começaram a namorar quando ela tinha 15 anos e ele 19. Amadureceram juntos e descobriram uma vontade comum: a de formar uma família. “Eu quero ter uma pessoa do meu lado para compartilhar tudo comigo”, diz.

Há cerca de um ano, decidiram que já era hora de iniciar o projeto para o casamento. Ela cuida dos preparativos, enquanto ele das obras de construção da casa onde vão morar. Ela garante que o amor foi o ingrediente principal que os levou a pensarem casamento. “A gente se ama demais. Se não existe amor, você não tem nem vontade de conversar com a pessoa, o que dirá pensar em casar”, explica.

Por vários motivos, as pessoas continuam se casando. O principal, por amor. Mas também se casam para não ficarem sozinhas, por causa da idade, por causa do tempo longo de namoro, e assim por diante... A jornalista norte-americana Pamela Paul estudou essa questão por meio de entrevistas (The Starter Marriage and the Future of Matrimony – O Primeiro Casamento e o Futuro do Matrimônio) e diz que a resposta é unânime: as pessoas se casam por amor. O segundo maior motivo é o desejo de construir um lar que represente conforto e segurança, mas o amor também foi citado como razão principal.

E apesar de muitos dizerem que o casamento é uma instituição que está com os dias contados, o espiritismo, religião que acredita na evolução do espírito através da reencarnação, afirma que a união permanente de dois seres pelo casamento está de acordo com a lei da natureza e é um progresso na marcha da humanidade. A sua abolição seria regredir à vida dos animais.

Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec diz que a união livre e fortuita dos sexos é um estado de natureza. O casamento estabelece a solidariedade fraterna, observa-se entre todos os povos e se constitui um dos primeiros atos de progresso das sociedades humanas. Sem ele, o homem regrediria à infância da humanidade e se colocaria abaixo mesmo de certos animais que lhes dão o exemplo das uniões constantes. O espiritismo diz ainda que a abolição da poligamia pela maioria das culturas marca um progresso da sociedade. “O casamento  conforme os desígnios de Deus, deve estar fundado na afeição dos seres que se unem. Com a poligamia, não há afeição real: há apenas sensualidade”, diz Kardec, o codificador da doutrina.

A psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira diz que acredita na potencialidade das escolhas, das decisões, e o casamento é uma decisão. Ela diz que a opção pelo casamento deve ser bem pensada, pois a partir do momento em que nos decidimos por ele, passamos a fazer uma interseção das histórias de vida do par. Com isso, passa-se a construir um terceiro mundo.

Nesse novo mundo, os dois passarão a ter um jeito próprio de viver, que implica em mudanças e nova organização interna para compor junto ao outro nas novas decisões, nos objetivos,nos planos, que a partir disso passam a ser feitos em conjunto.

“Cada casal tem um jeito singular de viver essa união. Aliás, a escolha do parceiro se dá a partir de diversos motivos, de diversas vivências emocionais. Por isso, é importante avaliar o que está buscando na relação”, afirma. Muitas pessoas escolhem o parceiro com a expectativa de que ele supra suas deficiências e dificuldades. Mas pode ser frustrante construir uma relação baseada naquilo que não temos e achamos que, de alguma forma, o outro pode nos dar. Isso não acontece. O outro deve somar junto a você. 

O modelo de relação de cada casal será construído no dia a dia, no estar junto, no compartilhar coisas, momentos, afetos e relacionamentos. 

Gisele diz ainda que, no casamento, há restrições quanto à liberdade e autonomia. No entanto, quando há comprometimento na relação, ela pode ser muito rica e contribuir para o desenvolvimento dos vínculos e no aprofundamento da relação amorosa.

Os momentos de crises fazem com que o casal tenha de dialogar e assim se reorganizar, se transformar, criar novas formas de se relacionar, deixando o lugar comum para criar novas possibilidades, novos olhares, novos e diferentes papéis, novo modo de se relacionar.

Negociar regras, tempo, valores, normas e planos para o futuro faz parte da construção do casamento, do desenvolvimento pessoal e da parceria. No casamento, essa nova configuração irá proporcionar grandes transformações, mas nem tudo são flores. As mudanças podem provocar conflitos e crises, e isso faz parte do relacionamento, do processo de adaptação e reorganização do casal a fim de atender às novas necessidades.

“Essa construção requer desejo de realizar, disponibilidade para mudanças e readaptações da vida”, explica Gisele. Com isso, os casais criam suas próprias obras, únicas e repletas de experiências singulares, nas quais o exercício de estar com o outro pode proporcionar um grande desenvolvimento emocional.

A psicóloga Carolina Fernandes Todesco, terapeuta individual, familiar e de casais, afirma que, num mundo onde a velocidade e a rotina tomaram conta da vida das pessoas, a individualidade e o isolamento não têm espaço quando o assunto é a realização pessoal e afetividade: o ser humano precisa do outro.

Hoje, os  papéis de gênero vêm sendo revistos, as famílias se estruturam de diferentes formas e o modelo de casamento vem sofrendo mudanças. “Porém, a união e o relacionamento interpessoal são atitudes que, independente das influências externas e rituais, ainda permanecem no estilo de vida projetado pelo homem, o que descarta a possibilidade dessas ações serem extintas na sociedade”, explica.


O psicólogo clínico Ailton Amélio, professor da Universidade de São Paulo e autor dos livros “Relacionamento Amoroso” (Publifolha), “Para Viver Um Grande Amor” (Editora Gente) e “O Mapa do Amor”(Editora Gente), diz que, para uma relação dar certo, o casal precisa ser similar na faixa etária, escolaridade, religião condição econômica e raça. É preciso ainda escolher alguém que tenha as características pessoais importantes para você. Ninguém muda com facilidade e começar uma relação achando que o outro deixará de ser mulherengo vai deixar um vício ou se tornar mais sociável é irreal. Ambos devem ainda investir na relação de forma equilibrada. Se apenas uma das partes investir, mais cedo ou mais tarde surgirão ressentimentos. “Divergências acontecem, mas é a frequência com que aparecem, a importância que se dá e como o casal lida com elas que vai ser determinante”, diz.

Mas Amélio acredita que o amor continuará sendo o componente mais importante nas relações. “O amor une, dá emoção e energia ao relacionamento”, diz.

Bem à saúde
A ciência e a medicina não podem estar tão erradas quando apontam que o casamento traz benefícios mentais aos casados. Um estudo australiano, realizado na Universidade de La Trobe, em Melbourne, mostrou que a saúde menta lde homens e mulheres melhora com o casamento: apenas13%dos participantes casados sofriam de estresse. 

O psicólogo David de Vaus, da Universidade de LaTrobe, disse que quando analisou os dados de uma pesquisa sobre saúde mental com mais de 10 mil adultos, descobriu que 25% de homens e mulheres solteiros eram infelizes. Entre as mulheres pesquisadas, as casadas e com filhos tiveram a menor incidência de problemas relacionados à saúde mental.

A Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), fez um levantamento com 35 mil pessoas em 15 países diferentes e descobriu que homens e mulheres ficam menos aptos a desenvolver depressão e ansiedade após o casamento. _ (GB)


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