sábado, 5 de março de 2011

ACORDA, CINDERELA!

 
JORNAL DIÁRIO DA REGIÃO
Escritor por: Gisele Bortoleto
Data: 22/08/2010
 
A discussão se o par perfeito existe não é exatamente nova. Todos nós passamos uma parte da vida procurando o par perfeito física e emocionalmente, aquela pessoa ideal que queremos para o resto da vida sem jamais enfrentar qualquer tipo de problema.
Por sorte, com o passar dos anos, boa parte de nós acaba deixando de lado esta história de par idealizado e passa a fazer o que for possível para viver uma relação saudável, onde haja o crescimento de ambos.
Bernardo Soares heterônimo do poeta português Fernando Pessoa, tratou do assunto no “Livro do Desassossego”, onde diz: “adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito”.
A jornalista Rosana Braga, consultora em relacionamentos e escritora, autora do livro “Faça o Amor Valer a Pena” (Ed. Gente), diz que o par perfeito não existe simplesmente porque não existem pessoas perfeitas. Perfeição é algo que todo ser humano idealiza, mas que não faz parte do processo, porque estamos aqui justamente para aprender.
“Buscamos modelos de uma maneira muito parecida com a que nossos pais buscavam e viveram as relações deles”, diz. Ou seja, aprendemos a nos comportar e acreditar em crenças muito parecidas com as dos nossos pais e, por isso, usamos as mesmas “estratégias” que eles, não só nos relacionamentos, mas também em toda a vida. E, ainda assim, a consultora afirma que é bom lembrar que com autoconhecimento é possível identificar esses padrões e mudá-los, caso a pessoa sinta que essas repetições estão prejudicando sua vida.


Frustração certa


“Quando buscamos o modelo de uma pessoa na outra, a frustração é certa porque cada indivíduo é único e jamais nos sentiremos satisfeitos se estivermos em busca de algo predesenhado em nossa mente”, afirma.
“Temos de ter em mente que o ideal não é real. E depois porque podemos, sim, aprender o que queremos e o que buscamos, mas sempre deverá haver espaço para acolher o outro como ele é.”
Quando falamos de saber o que queremos, estamos falando de caráter, conceitos básicos da vida, e não de personalidade, jeito de ser e de viver. “Isso é muito particular e está em constante transformação. Não somos seres estáticos e imutáveis”, afirma. Portanto, o que nos parece ideal hoje, talvez não seja mais amanhã, e isso faria com que ninguém conseguisse viver por muito tempo com outra pessoa.
A escritora lembra ainda que amor é, antes de mais nada, uma identificação de almas e de corações, sem tanta explicação lógica ou racional. Se ficarmos na busca de alguém que pareça mais com uma fórmula matemática, certamente terminaremos sós. Então, para que isso não aconteça, é preciso relaxar, deixar fluir, buscar o equilíbrio interno e a paz interior e parar com mania de querer controlar o mundo e as pessoas.
Podemos, sim, fazer escolhas, mas a maior parte da vida acontece no imponderável, no inexplicável e no invisível.
Quanto mais uma pessoa se conhece, mais ela está pronta para se desarmar, se entregar, para confiar no universo, deixar rolar, e para compreender que mecanismos de defesa só servem para nos afastar da felicidade e do amor.
A psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira afirma que geralmente a escolha de um parceiro envolve diversas motivações, e estas estão intensamente ligadas a vivências emocionais muito íntimas e profundas.
Atualmente, existe uma valorização muito grande do “eu”, com a mistura de desejos de várias ordens, inclusive com relação ao fato de que se encontrará alguém que vá suprir todos os desejos e sonhos.
“Na verdade, idealiza-se que o outro possa suprir todas as suas carências. A relação passa a ser vista e vivenciada como uma tábua de salvação”, diz. Tudo isso deve-se ao fato de que o papel do parceiro é o que interliga mais fatores de nossa vida: fantasias, sexualidade, o que você pensa sobre você mesmo, medos e romantismo.
“As histórias de contos de fadas e a fantasia do ‘foram felizes para sempre’ ainda são muito disseminadas. A vida real não é assim”, afirma Gisele.
É preciso compreender que cada ser humano tem seus próprios ideais, pensamentos e desejos. Uma relação construída apenas no ideal daquilo que outro possa proporcionar está fadada a acabar, ou até mesmo no sacrifício de uma das partes que acaba se anulando para realizar os desejos do outro.


Maturidade para enxergar o outro


Cuidado para não passar a vida toda procurando alguém que não existe a não ser em seu imaginário. As pessoas precisam se permitir vivenciar projetos reais porque uma relação sólida só é construída com seres humanos reais, que tem qualidades e defeitos.
Existe sempre o risco de, em busca do tão sonhado par ideal, não darmos chances para o outro. Há pessoas que nunca estão satisfeitas com os parceiros que encontram, pois tem um ideal fixo e o outro não consegue suprir toda essa expectativa.
De acordo com a psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira, nessa hora o parceiro perfeito passa a ser o que ele sempre foi: um ser humano que tem falhas, pensamento e hábitos diferentes. Isso se torna suficiente para que muitas pessoas deixem de investir no relacionamento.
Algumas pessoas buscam, de forma inconsciente, vivências afetivas da infância ou suas primeiras relações afetivas. Há ainda pessoas que não conseguem perceber o outro e que buscam apenas satisfazer suas necessidades e não percebem o parceiro como alguém que também tem necessidades. Não amadureceram emocionalmente, mostrando-se imaturas ao se relacionar.
Antes de idealizar outra pessoa, é preciso ter em mente o que você quer e quem você é. Só a partir daí deve-se pensar a respeito do tipo de pessoa com a qual você gostaria de se relacionar.
“Inicialmente, é comum que ocorram idealizações. No entanto, é preciso estar atento para o fato de que a pessoa poderá, futuramente, não corresponder a todas as expectativas”, diz. É preciso ter maturidade para encarar e buscar enxergar o outro como um ser humano como você.
O relacionamento tem mais chances de sucesso se você se relaciona com quem o outro é e não com aquilo que ele poderá ser.


Sem receita


Não existe uma fórmula para que um relacionamento dê certo, independentemente do quanto distante ela esteja do que você idealizou. No entanto, há coisas que podem possibilitar uma relação mais saudável e promissora. Um relacionamento é construído a partir de enfrentamentos, conhecimento e crescimento de si e do outro, além de projetos em comum.
É preciso avaliar as expectativas com relação ao parceiro e tentar entender que as pessoas são diferentes, que também têm suas expectativas e que nem sempre a relação vai trazer tudo que se deseja. Para Rosana Braga, não existe uma receita porque pessoas não são como bolos. O que existem são escolhas. E as escolhas precisam ser diárias, feitas e refeitas a todo instante. Se escolhermos o amor somente quando o outro se comporta como queremos ou quando está tudo bem, jamais saberemos o que é amor de verdade. Segundo ele, se a pessoa se compromete em vivenciar um dia depois do outro, ficará bem mais fácil fazer o melhor possível para que a harmonia seja mais duradoura e consistente.
Quanto mais buscamos o que pensamos ser ideal, mais perdemos a chance de conhecermos pessoas incríveis, diferentes de nós e que podem nos ensinar muitas coisas.


Dicas


Permita-se vivenciar projetos reais. Uma relação sólida só é construída com seres humanos reais, que têm qualidades e defeitos.
O amor é, antes de mais nada, uma identificação de almas e de corações, sem tanta explicação lógica ou racional. Se ficarmos na busca de alguém que pareça mais com uma fórmula matemática, certamente terminaremos sós.
Antes de idealizar outra pessoa, é preciso ter em mente o que você quer e quem você é. Só a partir daí deve-se pensar a respeito do tipo de pessoa com a qual você gostaria de se relacionar.
Tenha em mente que o ideal não é real. Podemos, sim, aprender o que queremos e o que buscamos, mas sempre deverá haver espaço para acolher o outro como ele é. Quanto mais uma pessoa se conhece, mais ela está pronta para se desarmar, se entregar, para confiar no universo, deixar rolar e para compreender que mecanismos de defesas só servem para nos afastar da felicidade e do amor.
É preciso compreender que cada ser humano tem seus próprios ideais, pensamentos e desejos. Uma relação construída apenas no ideal daquilo que o outro possa proporcionar está fadada a acabar, ou até mesmo no sacrifício de uma das partes que acabará se anulando Um relacionamento é construído a partir de enfrentamentos, conhecimento e crescimento de si e do outro, além de projetos em comum.
Avalie as expectativas com relação ao parceiro e tente entender que as pessoas são diferentes, que também tem expectativas.

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