sexta-feira, 13 de maio de 2011

VIDA QUE SE SEGUE


JORNAL DIÁRO DA REGIÃO
Escritor por: Gisele Bortoleto
Data: 06/02/2011
 
Aprenda a lidar com a perda. Toda partida representa um recomeço... para ambos os lados
 
Juliana, uma adolescente de Brasília de 13 anos, está estudando em um colégio particular de Rio Preto e conquistou um grande número de amigos. Mas a passagem dela pela cidade está com os dias contados. Ela vai se mudar com a mãe, que ocupa um alto cargo em Brasília.
O clima já é de tristeza entre os colegas que se afeiçoaram a ela. Todos sabem que dentro de dois meses haverá a inevitável separação. A adolescente vai para a Capital da República, onde certamente será cercada de boas oportunidades e o colégio onde estuda atualmente também vai seguir sua rotina. Mesmo assim,  os amigos mais próximos já começam a ficar tristes.
O escritor e consultor Eugênio Mussak compara a escola a  um entreposto de emoções. No  colégio, encontramos amigos e professores, nos afeiçoamos e construímos um mundo muito seguro ao nosso redor. Aí, de repente, chega o final do ano e muda tudo. O foco passa a ser a sensação de vazio, de perda, de desamparo, de desassossego. Então começa um novo ciclo, conhecemos novas pessoas e esse ciclo se fecha novamente. 
Meninos e meninas, segundo ele, de certa forma estão se preparando para uma situação que irão enfrentar pelo resto da vida: encontros, afinidades, desencontros e separações.  Mas não podemos esquecer que cada um de nós tem um caminho a seguir e tem de fazer sua parte. A vida não para enquanto choramos as nossas perdas. 
Nossa vida é um conjunto de mudanças e nenhum de nós está  livre de sofrer com as perdas. Quantas vezes trabalhamos num lugar, nos apegamos à causa, ao ambiente, às pessoas, Somos colocados em contato com os outros e atraídos a eles por semelhanças, valores, afinidades, afetos e interesses. E, de uma hora para outra, somos afastados delas pelos destinos particulares. 
Todos nós já tivemos e ainda teremos Julianas em nossas vidas. Pessoas importantes mas que se foram, tiveram de seguir seus destinos. Fazer amigos, envolver-se com alguém e criar laços humanos no trabalho ou ter relações amorosas são riscos grandes em nossas vidas. Provavelmente, irão ocorrer separações e elas nos fazem sofrer.
O consultor lembra que é impossível alguma conquista sem termos ao mesmo tempo uma perda. Quando fazemos uma coisa, temos de renunciar à outra. 
Quando você escolhe alguma coisa - uma profissão, a pessoa com que vai compartilhar a vida, um prato no restaurante ou a roupa que vai vestir - pressupõem-se renúncias.
A dificuldade para lidar com tudo isso, na opinião de Mussak, faz parte do estado mental das pessoas porque em princípio não estamos preparados para as perdas. A sociedade ocidental moderna prepara os jovens para os ganhos, para as vitórias, para as conquistas, o sucesso na profissão, e não nos prepara para essas “perdas”. 
O sentimento da perda é uma constante em nossa vida. Estamos sempre tendo de nos afastar de alguma coisa e por isso temos a dificuldade de nos separar daqueles com quem criamos um elo de afeto. Porque temos a sensação de que o afeto será perdido quando na verdade ele apenas se distanciou. Temos de aprender com a existência deles e não com sua presença fisica, porque não poderemos estar ao seu lado sempre.
O budismo prega o desapego porque nada é definitivo, tudo é transitório. Você tem de se desapegar e esta é uma das partes dificeis da doutrina.
Para a psicóloga Gisele Lélis Vilela de Oliveira, o sentimento de perda vivenciado nessas situações resulta da relação afetiva que existia entre as pessoas, o grau de intimidade. “Na verdade, esse sentimento diz respeito ao modo como o relacionamento se deu, as atividades que fizeram juntos, a história que esse par estabeleceu durante o tempo de relacimento”, afirma.
Esse sentimento de perda, segundo ela, se dá devido aos momentos que as pessoas vivenciaram juntas, as experiências adquiridas, que não serão mais possiveis. Há uma perda social. Há uma necessidade impota pela vida de que se redesenhe os relacionamentos, reformatando assim a vida, em função das ausências. “ A lógica da vida é essa’, diz. Durante todo tempo, a vida vai assumindo novos desenhos em função da presença ou ausência de pessoas com as quais estabelecemos nossa convivência. O autoconhecimento é algo que pode ajudar muito, pois ele poderá oferecer suporte emocional e afetivo suficientes para enfrentar as perdas de modo geral, com isso a pessoa irá aprender a canalizar seu amor também para outras pessoas. A psicóloga cognitivo-comportamental Mara Lúcia Madureira afirma que sofremos com as separações porque temos a presunção de acreditar que não podemos passar por certos sofrimentos e que nossa vida deveria ser previsível. “São poucas as pessoas que permanecem na nosa vida. Fica apenas o aprendizado”, diz. Nada impede de vivenciarmos esses vínculos, apesar da distância. Lamentamos as separações, mas fazemos muito pouco para resgatar esses vínculos.
O sentimento de perda com as partidas vai existir em todas as fases da nossa vida. Para apsicóloga Silvana Parreira de Jesus, precisamos-ter em mente que nossa vida é um entra e sai constante de pessoas. Cada um tem um caminho para trilhar. “Cada um vai buscar um roteiro diferente”, diz. 
Essa tristeza quando nos desligamos de alguém é normal. E um processo de mudança. O tempo, segundo Silvana, acaba mostrando que essa mudança foi necessária. O importante é aprender a trabalhar esse sentimento dentro de você.  Para a terapeuta Silvia Lux, precisamos sempre dar abertura para construir novos relacionamentos, conhecer novas pessoas e aprender a lidar com esse momento porque nada é eterno. As separações fazem parte da vida.

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