sábado, 5 de março de 2011

NÃO FAÇA DE VOCÊ O SEU OBSTÁCULO

 
JORNAL DIÁRIO DA REGIÃO
Escritor por: Juliana Ribeiro
Data: 04/06/2010


“Pode parecer estranho, mas existem pessoas que fazem de tudo para que as coisas não deem certo para elas. É um processo inconsciente. São perdedores, que escolhem as pessoas erradas, os lugares errados e desperdiçam todas as chances que a vida lhes dá para serem bem sucedidos. Sentem medo do sucesso e se tornam vítimas das situações”, explica a psicóloga Kátia Ricardi de Abreu, de Rio Preto.

É o próprio medo de viver.
“Temos medo de abandonar a rotina, de encarar situações novas e inusitadas, pois corremos o risco de não sabermos lidar com elas. Então caímos em armadilhas criadas por nós mesmo. Apesar do desejo de mudar, não estamos realmente prontos para isso, o que nos leva à autossabotagem”, alerta a psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira.

A psicóloga Heloisa Fleury, coordenadora geral do Departamento de Psicodrama do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, levanta as primeiras pistas para desvendar as causas do ser humano se fazer mau. “Uma mulher com tendência a autossabotagem acredita que não tem condições de lidar com desafios. Então, ela acha melhor nem tentar porque o tombo certo será muito doloroso” explica.

Para Heloisa, algumas pessoas ainda acreditam que esse tipo de atitude serve como proteger. “É como se fosse a fala dos pais dizendo para a criança: ‘Você ainda é pequena, cuidado para não se machucar.’ Ledo engano. A falsa impressão de proteção deixa a autoestima mais em baixa e transforma a pessoa em presa fácil do medo. Aí, detonar o gatilho da sabotagem é simples.”

A autossabotagem não está ligada diretamente a traumas de infância. A psicóloga Kátia Ricardi de Abreu explica que o que pode ter acontecido na infância é a pessoa ter recebido atenção e afagos quando as coisas não davam certo. “Não tiveram pais ou educadores que lhes encorajassem a fazer as coisas, errar, corrigir, errar e seguir adiante. Foram poupados exageradamente e entenderam erroneamente que perder é mais ‘vantajoso’ do que ganhar, embora possa parecer estranho. De uma forma distorcida, eles entenderam que existem pseudovantagens quando não conseguem algo. Sempre alguém os salva, alguém os socorre”, enfatiza.

O medo apavora as pessoas. Alguns sentem medo de perder, outros de começar e por incrível que pareça, enquanto alguns almejam sucesso, outros entram em pânico só de pensar nele. Segundo Heloisa Fleury, o fracasso já é uma situação conhecida. “Você já sabe como agir e se comportar diante dele. Sabe que irá receber atenção, que muitos irão te proteger, sua criança interior fala mais alto e você deixa se levar por tal sentimento e perde a oportunidade de analisar suas estratégias para enfrentar os desafios. E assim, mais uma vez, você dá espaço ao círculo vicioso da sabotagem e deixa que ela se instale totalmente em sua vida.”

Quando a pessoa não sabe o que quer, o boicote entra em cena como um mecanismo de defesa ou de punição e está ligado ao baixo amor-próprio. “É uma atitude que mostra a insatisfação com os rumos que a vida está tomando. Há uma sensação de incapacidade de avaliar e projetar o que realmente deseja”, explica a psicoterapeuta Maura de Albanesi, de São Paulo.

O maior problema está no fato de as pessoas se autossabotarem no dia a dia.
A psicóloga Gisele de Oliveira levanta uma questão comum: Quantas vezes na vida você já disse sim, quando queria dizer não, deixando de lado aquilo que realmente importa para ceder a pressões familiares e sociais? A resposta provavelmente deve ter sido: inúmeras vezes. O ser humano tem o triste costume de querer agradar os outros. “As pessoas se sabotam no trabalho, no casamento, na educação dos filhos, no relacionamento familiar, com amigos. Se sabotar é deixar seus reais propósitos, seus sonhos, seus objetivos de lado. Esse processo não é consciente e é de difícil identificação, já que aparece associado a outras emoções como culpa, medo, falta de confiança em si, procrastinação, entre outros” ressalta.

Para sair desse universo autodestrutivo, é preciso analisar o que realmente está acontecendo e perceber o mau que você está se fazendo. Os especialistas enumeram os sintomas mais comuns. Justificar seus erros e colecionar desculpas para tudo. Deixar tudo para amanhã, por medo de encarar o agora. Não conseguir enxergar o lado bom das coisas. Viver diariamente um conflito interno de querer muito algo, mas não ter coragem de se arriscar. Deixar sempre que as dúvidas falem mais alto.

Perder um tempo enorme planejando ações, que nunca colocará em prática. Sentir dificuldade de estabelecer objetivos e lutar por eles. Andar sempre na contramão, tentando se prejudicar a todo custo. “O processo de ajuda deve ser interno. Por mais que amigos e parentes tentem ajudar, de nada adianta se a pessoa não percebe e não quer se liberar desse universo. É necessário partir da pessoa o reconhecimento de suas atitudes destrutivas e partir em busca de tratamento” justifica Maura.

O retorno à vida não pode ser de repente, é preciso muito cuidado para não entrar em pânico e regredir ao invés de avançar. “Quando a pessoa entra no círculo vicioso da autossabotagem, ela esquece que cabe somente a ela a construção e a reconstrução de sua vida”, garante a psicanalista Sandra da Luz Inácio, de São Paulo. Sandra também afirma que identificar os sintomas e encarrar a autoimagem é uma providência importante. “Aproveite esse retrato congelado seu para se analisar. Isso amplia sua percepção e revela como você vê a si mesma e a situação”.

Só o autoconhecimento irá nos prevenir de ações negativas contra nós mesmos. “Para evitar boicotes, é necessário nos conhecermos para termos certeza de como gostaríamos de viver, onde realmente gostaríamos de trabalhar, onde gostaríamos de morar e até mesmo o que realmente nos faz bem nessa vida, para só assim podermos concretizar nossos sonhos e desejos sem cair em nossas próprias armadilhas”, ressalta Gisele.

O educador Luciano Meira, de São Paulo, também acredita que é necessário se conhecer melhor para não se autodesvalorizar. “Uma forma de se autoconhecer é listar as coisas que você já realizou e são motivos de orgulho”, diz. Para voltar a viver, é preciso ter estratégias. De nada adianta se dar desafios grandiosos. Defina metas pequenas e vá cumprindo as etapas. “Pequenas vitórias fazem grandes efeitos. A pessoa pensa: ‘Se eu consegui vir até aqui, posso ir mais longe’. Trace um caminho realista e fortalecer-se a cada passo. Esse recurso é indicado para qualquer setor da vida”, finaliza Luciano.


Jogando contra:
Sintomas de autossagotagem mais comuns enumerados pelos especialistas:


:: Justificar seus erros e colecionar desculpas para tudo


:: Deixar tudo para amanhã, por medo de encarar o agora


:: Não conseguir enxergar o lado bom das coisas


:: Viver diariamente um conflito interno de querer muito algo, mas não ter coragem de se arriscar


:: Deixar sempre que as dúvidas falem mais alto


:: Perder um tempo enorme planejando ações que nunca colocará em prática


:: Sentir dificuldade de estabelecer objetivos e lutar por eles


:: Andar sempre na contramão, tentando se prejudicar a todo custo 
 

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