sábado, 5 de março de 2011

CASAMENTOS ACIMA DE 50 ANOS AUMENTAM EM 48%

 
JORNAL DIÁRO DA REGIÃO
Escritor por: Maria Stella Calças
Data: 19/11/2010

Foi em um baile, há nove anos, que a inspetora de alunos Zuleica Ferraz, 55, conheceu o empreiteiro Vittório Vitagliano, 59, em Rio Preto. Na época, os dois estavam divorciados e a solidão deu espaço à paixão. O relacionamento - numa fase mais madura - deu tão certo que agora o casal pretende oficializar a união no ano que vem. Zuleica e Vitagliano fazem parte de um fenômeno crescente no Brasil - nos últimos cinco anos, segundo a pesquisa “Estatísticas do Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de casamentos entre pessoas com mais de 50 anos cresceu 37%.
Em Rio Preto, esse número vai mais além, de 2005 a 2009, o número de casamentos entre essa faixa etária aumentou 48% - foram 129 registros em 2005, contra 191 em 2009. De acordo com dados do IBGE, os homens com mais de 50 anos buscam relacionamentos com mulheres entre 50 a 54 anos. Já as mulheres são maioria nos casamentos com homens acima de 55 anos. O aumento da expectativa de vida dos brasileiros contribui para esse aumento de união entre idosos. “Com o aumento da qualidade de vida e o avanço da medicina, as pessoas têm a oportunidade de se cuidar, prevenir doenças e, com isso, prolongar sua vida social. Agora os idosos também querem ser felizes”, explica a antropóloga Niminon Suzel Pinheiro.
Para a antropóloga, a busca pela felicidade nessa fase da vida mostra também uma mudança na sociedade. “Hoje, o relacionamento entre pessoas mais velhas é mais aceito pela sociedade. Até existem vários eventos voltados para esse público. Há uns anos, terceira idade era todo mundo que tinha mais de 55 anos. Hoje temos pelo menos três níveis de terceira idade: os de 55, os de 70 e os de 90, por exemplo”, diz. “Cada uma dessas fases tem suas necessidades e as pessoas não têm medo de buscar a felicidade”, afirma Niminon.


Relação madura


A psicóloga Gisele Lelis afirma ser muito saudável manter um relacionamento na terceira idade. “Nessa fase da vida mudam as expectativas em relação ao outro, muda o modo como eles veem aquele amor. O relacionamento é mais amadurecido”, diz. “Não que eles não sintam ciúmes ou tenham uma paixão avassaladora, mas é uma relação mais amadurecida. É diferente daquela paixão de adolescente. Isso é muito saudável para o próprio relacionamento.”Zuleica e Vitagliano concordam. “Nesta fase da vida, não tem mais ilusão de príncipe encantado”, diz a inspetora. “Decidimos oficializar a relação porque percebemos que não tem mais jeito: vamos passar o resto da vida juntos”, conta Zuleica. “Temos mais experiência, o que evita a insegurança da juventude”, afirma Vitagliano.

Planos


Quem também planeja se casar nesta fase da vida é a costureira Alice Rodrigues, 60. Divorciada há 20 anos, ela e o segurança Aparecido Miguel Ferreira, 53, vão oficializar a união ainda este ano. “A gente se conheceu há 18 anos, em um baile. Aí começou a paquera, mas namoro mesmo faz cinco anos”, conta Alice.
“Começamos a planejar nosso casamento há dois anos. Já era para ter sido realizado, mas minha mãe morreu há quatro meses, então tivemos que adiar. Mas desse ano não passa”, conta Ferreira, que é divorciado há mais de 20 anos. Para eles, o relacionamento depois dos 50 é ótimo. “É muito melhor do que quando você é jovem porque com a nossa idade você valoriza o companheirismo, a compreensão, coisas que muitas vezes são esquecidas pela mocidade”, afirma a costureira.

Morar junto acaba com o companheirismo’


Namorando há três anos, a aposentada Dulcinéia Marlene, 67 anos, nem pensa em se casar com o também aposentado João Ferreira Filho, 80. “Morar junto acaba com o companheirismo. Nos damos bem e eu não quero colocar isso em risco”, explica a aposentada. Viúva há 11 anos, Dulcinéia está namorando pela primeira vez depois da morte do marido. “É diferente porque você tem mais experiência e não tem mais aquelas ilusões da juventude.” Ela conta que depois que o marido morreu não queria saber de arrumar namorado. “Eu queria era viajar, passear.”
Ferreira é viúvo há 27 anos e teve outras namoradas antes de Dulcinéia. Os dois se conheceram na casa de amigos. “Eu estava lá e ele chegou com a filha. Começamos a conversar e eu contei que gostava muito de viajar - na época eu tinha acabado de voltar da Europa - e ele disse que adorava sair e que ia ao baile toda semana. Depois disso, ele me convidou para ir a um baile. Foi assim que tudo começou”. O primeiro baile levou a uma série de passeios. “Nós começamos a sair com frequência e não paramos mais”, diz a aposentada.
Apesar de estarem sempre juntos, os dois não pensam nem mesmo em casar oficialmente. “Cada um tem a sua casa. Eu fico em Mirassol, cuidando do meu sítio, e ela aqui, é bom porque não dá briga”, afirma Ferreira. Para Dulcinéia, o melhor de morar em casas separadas é não ficar sem assunto. “Sempre que ele chega em casa ou eu na casa dele, a gente tem o que conversar. Se morar junto, acaba ficando sem assunto. É bom estar separado porque mantém o diálogo.”
Desde que começaram a namorar, os dois não param em casa. “Nós vamos ao baile duas vezes por semana, já fizemos várias viagens, inclusive um cruzeiro, e em janeiro vamos para a praia”, conta a aposentada. “Ele é muito companheiro, só não anda de avião”, diz Dulcinéia, que é apaixonada por viagens. Ele afirma que as duas filhas e os netos apoiam o namoro. “Minhas filhas aceitaram sem problemas e meus netos acham até engraçado”, conta o aposentado. Segundo a mulher, as filhas de Ferreira gostam do fato de o pai não ficar sozinho. “Elas sabem que eu estou sempre com ele.”

Regime de separação muda


Essa semana foi aprovada pelo Senado uma lei que aumenta de 60 para 70 anos a idade a partir da qual é obrigatório o casamento em regime de separação de bens. Para começar a valer, a lei precisa ser sancionada pelo presidente da República. A deputada federal Solange Amaral, autora do projeto, afirma que a idade da atual lei não condiz com a expectativa de vida do brasileiro. Hoje, a expectativa de vida calculada no Brasil é de 73 anos.
Para a antropóloga Niminon Suzel Pinheiro, o casamento na terceira idade ainda gera conflitos familiares. “Oficializar uma união nessa fase da vida pode ter alguns problemas. A aceitação dos filhos é muito importante. Muitas vezes os filhos não aceitam porque acreditam que com o novo casamento terão que dividir a herança com o novo cônjuge. Eles (filhos), muitas vezes acham que a nova pessoa com quem o pai ou a mãe está se casando só está interessada nos benefícios que pode receber da união”, explica a antropóloga.
Segundo a psicóloga Gisele Lelis, nem todas as famílias estão prontas para esse tipo de união. “Uma parte das famílias está preparada para lidar com os relacionamentos dos mais velhos. Eles enxergam o idoso como uma pessoa ativa, que pode sim ter um novo relacionamento. Por outro lado, alguns filhos não aceitam essa situação. Eles não conseguem acreditar que os pais se apaixonam novamente. Para eles, os pais estão ficando loucos quando aparecem com um novo amor”.Nesses casos, diz a psicóloga, “os mais jovens têm uma grande dificuldade em entender que, mesmo com a idade mais avançada, essas pessoas ainda podem se apaixonar e viver as mesmas emoções dos jovens.”

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