segunda-feira, 10 de outubro de 2011

TEMPO PRECIOSO



COMPORTAMENTO
por Vívian Lima - Revista Vida e ARte Diario da Região- outubro de 2011
Correria do dia a dia e excesso de trabalho não devem prejudicar educação nem intensidade de afeto dedicados aos filhos

Pais com vida corrida e filhos que passam boa parte do dia na escola são situações
comuns hoje. A diferença surge no modo como cada família se organiza para não deixar que as obrigações rotineiras anulem a presença dos pais na vida dos filhos. “Ser presente na vida dos filhos significa estar no aqui e agora, aproveitar cada segundo do encontro para trocar estímulos agradáveis ou, se for preciso, fazer pontuações necessárias ao processo de educar”, diz a psicóloga Kátia Ricardi de Abreu, de Rio Preto.
A psicóloga e psicodramatista Gisele Lelis Vilela de Oliveira, também de Rio Preto, explica que o primordial não é a quantidade de tempo que os pais passam com os filhos, mas sim a qualidade do tempo
que dedicam a eles. “Ao brincar com os filhos, os pais devem esquecer um pouco o que têm para fazer, as ligações que podem receber ou fazer. Enfim, precisam estar realmente presentes e disponíveis para a criança”, afirma Gisele.
As conversas nos horários das refeições, o diálogo dentro do carro durante o trajeto para a escola também podem ser especiais para fortalecer o vínculo entre pais e filhos. “Uma música pode ser ouvida ou cantada
junto, uma conversa pode ser estabelecida de forma descontraída. Até mesmo no silêncio, os olhares de cumplicidade, amor e carinho podem ser transmitidos”, ressalta Kátia. Para ela, quando se fala em presença dos pais não se deve pensar somente na presença física destes, mas especialmente em suas posturas. “Falo da presença educadora. E isso envolve a pontuação, a firmeza e o lúdico.” A fisioterapeuta Daniela Pereira organiza seus horários de trabalho para garantir a atenção dada aos filhos João Marcos, 8
anos, e Manuela, de 7 meses. A mãe dela ajuda no cuidado com as crianças. O marido de Daniela, o corretor de seguros Paulo Márcio Rosa da Silva, também se esforça para os momentos em família serem de qualidade.
Por ter rotina profissional flexível, ele já viajou com a mulher enquanto ela trabalhava e levou os filhos. “Assim não preciso parar de amamentar a Manuela”, diz Daniela.
As razões pelas quais o vínculo entre pais e filhos é tão importante, segundo a psicóloga Gisele, é que a primeira infância (do nascimento até os 6 anos) é o período de formação dos alicerces da personalidade. “É nela que a criança absorve valores importantes como as trocas afetivas que são responsáveis pelos sentimentos de amor e segurança emocional. Nessa fase, ela também é estimulada a desenvolver o amor próprio e a autoconfiança, além da interação social.”
Já na fase dos 7 aos 11 anos, as crianças têm mais autonomia e exemplos importantes na vida social, surge o melhor amigo. “A criança começa a analisar os valores ensinados em casa e também fora dela. Por isso, é importante que os pais estejam presentes avaliando a cada momento o que os filhos absorveram”, complementa Gisele.
Se a dedicação aos filhos for negligenciada, as crianças podem se tornar inseguras, ansiosas, agressivas, detentoras de uma autoimagem negativa, entre outras consequências que podem afetar a saúde psíquica e física.
Mais que amizade
A experiência de ser pai e mãe envolve tanto os momentos leves, de curtição, quanto os esgastantes. “Muitos pais, quando estão diante dos filhos, querem ficar apenas na ‘amizade’, querem ser amados por serem bonzinhos. E a educação, que em determinados momentos é desgastante e exige firmeza, fica terceirizada.”
Alguns pais, ao constatarem que não dedicaram tempo e atenção ou até deixam as crianças fazerem tudo o que querem. Kátia diz que, muitas vezes, a criança pede limites e, se os pais fecham os olhos
para isso, o filho pode encarar essa postura como falta de atenção e desamor.
Gisele afirma que dar limites aos filhos é uma forma de prepará-lo para a vida adulta. “Compensar com presentes é uma postura bastante complicada, pois faz com que a criança troque relações afetivas por coisas, podendo futuramente tornar-se um adulto materialista e consumista. Além disso, dar limites é importante para preparar a criança para a vida em sociedade, pois nem sempre ela obterá tudo que deseja. Com isso, os pais a preparam para lidar com as frustrações que terá na vida. Tudo isso é muito importante para que ela se torne um adulto emocionalmente saudável.”

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